Saúde mental e bem-estar como prioridade estratégica nas empresas

Saúde mental e bem-estar como prioridade estratégica nas empresas



Em tempos marcados por crises globais, transformações digitais aceleradas e dinâmicas de trabalho cada vez mais exigentes, a saúde mental deixou de ser um tabu para se tornar uma questão estratégica, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos mentais, como ansiedade e depressão, custam à economia global cerca de US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade. Diante disso, empresas que não colocarem o bem-estar no centro de sua cultura organizacional correm o risco de ficar para trás.

Por que a saúde mental é uma estratégia de negócio e não apenas um benefício?

Empresas são feitas de pessoas, quando essas pessoas não estão bem emocionalmente, o impacto é direto na performance e nos resultados da companhia. Segundo Daniel Goleman, psicólogo e autor do best-seller "Inteligência Emocional", “as emoções influenciam profundamente a capacidade de uma pessoa de trabalhar bem com os outros e tomar decisões eficazes”.

Organizações que compreendem isso têm adotado políticas mais humanas, focadas na escuta ativa, prevenção de doenças emocionais e promoção de ambientes de trabalho mais empáticos, um exemplo é a Unilever, que possui programas estruturados de bem-estar e apoio emocional, com acompanhamento psicológico gratuito e treinamentos sobre saúde mental para líderes.

Outra referência é o Google, famoso por investir pesadamente no bem-estar dos colaboradores, a empresa oferece uma combinação de benefícios, como sessões de meditação, espaços para descanso e mentoria psicológica. Segundo os próprios dados do Google, tais medidas têm impacto direto no aumento da criatividade e no engajamento das equipes.

Saúde mental: um fator-chave na retenção de talentos

No atual cenário de alta competitividade, reter talentos qualificados se tornou uma missão desafiadora, pesquisas do instituto Gallup indicam que 76% dos colaboradores consideram a saúde mental no trabalho tão importante quanto o salário. Isso demonstra uma clara mudança na mentalidade das novas gerações, que valorizam empresas comprometidas com o bem-estar emocional, e não apenas com resultados financeiros.

A psicóloga organizacional Amy Edmondson, professora da Harvard Business School, aponta que ambientes psicologicamente seguros são essenciais para que as pessoas se sintam confortáveis em expressar ideias, reconhecer erros e buscar ajuda quando necessário. “O medo de punição ou julgamento afeta profundamente o desempenho e a saúde emocional dos colaboradores”, destaca Edmondson.

Assim, promover uma cultura de segurança psicológica não é um “mimo corporativo”, mas uma vantagem competitiva crucial para empresas que desejam crescer de forma sustentável.

Principais estratégias para promover saúde mental nas empresas

Incorporar a saúde mental como estratégia exige ações práticas, consistentes e adaptadas à realidade da empresa. Veja algumas iniciativas eficazes:

1. Treinamento de líderes em inteligência emocional

Os líderes são figuras centrais na construção de ambientes saudáveis, treinamentos com foco em empatia, escuta ativa e regulação emocional contribuem para que líderes estejam preparados para apoiar suas equipes de forma humana e eficaz.

2. Programa de apoio ao colaborador (pac)

Implantar um PAC com atendimento psicológico sigiloso, gratuito e acessível tem se mostrado uma das práticas mais eficazes para o acolhimento e a prevenção de transtornos mentais.

3. Flexibilidade e jornada sustentável

Oferecer modelos híbridos, horários flexíveis e políticas de desconexão fora do expediente são medidas que ajudam os colaboradores a equilibrar a vida profissional e pessoal.

4. Pesquisas de clima e escuta contínua

Monitorar a saúde emocional dos times através de pesquisas periódicas e canais de escuta ativa permite identificar sinais de desgaste antes que se tornem problemas mais graves.

5. Ambientes saudáveis e inclusivos

A inclusão, a diversidade e a equidade são pilares essenciais para o bem-estar, empresas que promovem respeito às diferenças e combatem discriminações constroem um ambiente mais seguro psicologicamente.

Cultura organizacional e saúde mental: uma via de mão dupla

Investir em ações pontuais pode surtir algum efeito, mas sem uma mudança cultural profunda, os impactos serão limitados, como destaca Simon Sinek, especialista em liderança e cultura organizacional, “as empresas não são responsáveis apenas por resultados, mas por cuidar das pessoas que geram esses resultados”.

Por isso, o bem-estar deve estar presente desde o onboarding do colaborador até sua trajetória de desenvolvimento, isso significa criar uma cultura onde vulnerabilidades sejam acolhidas, onde pedir ajuda não seja sinal de fraqueza e onde o autocuidado seja incentivado.

O ROI do bem-estar: investir em saúde mental compensa?

Sim. E os números provam. Um estudo da Deloitte mostrou que cada US$ 1 investido em programas de saúde mental gera um retorno de US$ 4 em produtividade, redução de absenteísmo e engajamento.

Além disso, empresas com altos índices de bem-estar organizacional tendem a apresentar menores taxas de rotatividade, maior atração de talentos e melhor reputação no mercado, isso cria um ciclo virtuoso: colaboradores mais saudáveis geram melhores resultados, que fortalecem a empresa e permitem novos investimentos em bem-estar.

Dicas práticas para empresas de todos os tamanhos

  1. Comece pequeno, mas comece. Mesmo empresas com recursos limitados podem oferecer rodas de conversa, parcerias com terapeutas ou campanhas de conscientização.
  2. Converse com seus colaboradores. Entenda quais são suas dores, expectativas e desejos em relação ao ambiente de trabalho.
  3. Evite romantizar a produtividade tóxica. Cultura de excesso, glorificação do cansaço e cobrança constante são caminhos diretos para o adoecimento.
  4. Valorize a pausa. Incentive momentos de descanso, intervalos reais e a não sobrecarga de reuniões desnecessárias.
  5. Celebre conquistas humanas, não apenas metas. Valorize atitudes colaborativas, gentileza, empatia e progresso pessoal.

O futuro do trabalho é mentalmente sustentável

A saúde mental nas empresas não é mais uma tendência, é uma necessidade urgente, organizações que desejam crescer de forma saudável precisam colocar o bem-estar das pessoas no centro da estratégia, isso exige comprometimento, investimento e, acima de tudo, uma cultura que valorize o ser humano além do seu desempenho.

Como bem resume Brené Brown, pesquisadora e referência mundial em vulnerabilidade e liderança empática:

“As pessoas estão cansadas de trabalhar em ambientes onde não podem ser autênticas. Onde mostrar fragilidade é visto como fraqueza. A verdadeira força está em liderar com empatia e coragem.”

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