Assédio moral no ambiente de trabalho: o que é, como identificar e combater
O ambiente de trabalho ideal deve ser um espaço de
colaboração, respeito e crescimento, no entanto, em muitas organizações,
práticas abusivas e desrespeitosas ainda fazem parte da rotina de diversos
profissionais, uma dessas práticas, infelizmente comum e muitas vezes
silenciosa, é o assédio moral. Mais do que um problema de convivência, o
assédio moral impacta diretamente a saúde mental dos colaboradores, a
produtividade da equipe e a imagem da empresa.
O que é assédio moral?
O termo “assédio moral” refere-se à exposição de
trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras de forma repetitiva
e prolongada, durante a jornada de trabalho, essa prática pode partir de
superiores, colegas ou até de subordinados.
A psicóloga francesa Marie-France Hirigoyen,
referência mundial no tema e autora do livro Assédio Moral: A Violência
Perversa no Cotidiano, define o assédio moral como “qualquer conduta
abusiva, manifestando-se especialmente por comportamentos, palavras, atos,
gestos ou escritos, que possam atingir a personalidade, a dignidade ou a
integridade física ou psíquica de uma pessoa, colocando em perigo o seu emprego
ou degradando o clima de trabalho”.
Formas comuns de assédio moral no trabalho
O assédio moral pode se manifestar de maneira
direta ou velada. Veja alguns exemplos práticos:
- Isolamento
proposital de
um funcionário, impedindo sua participação em reuniões ou atividades.
- Críticas
constantes e injustificadas, com o objetivo de desqualificar o trabalho
do colaborador.
- Distribuição
desproporcional de tarefas, como sobrecarregar alguém para provocar
erro.
- Ameaças
frequentes de demissão, utilizadas como forma de controle emocional.
- Boatos,
humilhações públicas ou piadas maldosas, voltadas à desmoralização.
Importante destacar: o assédio não se caracteriza
por um conflito pontual ou uma exigência legítima de desempenho, mas sim por
uma conduta sistemática e repetitiva com o objetivo de desestabilizar o
trabalhador.
Quais os impactos do assédio moral?
O assédio moral é extremamente prejudicial, tanto
para o indivíduo quanto para a empresa, segundo a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), ambientes tóxicos são responsáveis por prejuízos físicos,
emocionais e financeiros expressivos.
No colaborador:
- Estresse
crônico, ansiedade, depressão
- Síndrome
de burnout
- Queda
na autoestima e no rendimento
- Afastamento
médico e pedidos de demissão
Na empresa:
- Aumento
da rotatividade (turnover)
- Clima
organizacional deteriorado
- Queda
de produtividade
- Danos
à reputação da marca empregadora
- Riscos
legais e financeiros (indenizações trabalhistas)
Como afirma o jurista brasileiro Luiz Flávio
Gomes, “o assédio moral fere não apenas o trabalhador individualmente, mas
o próprio princípio da dignidade da pessoa humana, previsto na Constituição”.
Como combater o assédio moral nas empresas?
Eliminar o assédio moral do ambiente de trabalho
exige compromisso da liderança, clareza de normas, canais seguros de
denúncia e uma cultura organizacional baseada no respeito.
1. Defina e divulgue uma política clara contra o assédio
O primeiro passo é formalizar um código de
conduta que defina com clareza o que é assédio moral, quais comportamentos
são inaceitáveis e quais são as consequências para quem os pratica.
Essa política deve ser amplamente divulgada desde
o processo de onboarding até treinamentos regulares com todos os níveis da
organização.
2. Ofereça canais de denúncia seguros e confidenciais
Colaboradores precisam ter meios confiáveis para
relatar situações de assédio sem medo de retaliação. Isso pode incluir:
- Ouvidorias
internas independentes
- Caixas
de denúncia anônima
- Escuta
ativa pelo setor de RH
- Suporte
jurídico ou psicológico quando necessário
O importante é que a denúncia leve a ações
concretas e imparciais.
3. Capacite líderes e gestores
Muitas vezes, o assédio moral é praticado — ou
tolerado — por lideranças despreparadas. O RH deve promover formações sobre
gestão humanizada, comunicação não violenta, escuta ativa e inteligência
emocional.
Como aponta Simon Sinek, especialista em liderança
e autor de Líderes se Servem por Último, “a verdadeira liderança começa
quando colocamos as pessoas em primeiro lugar”. Líderes devem ser promotores do
respeito e não perpetuadores do abuso.
4. Monitore o clima organizacional
Ferramentas de pesquisa de clima, entrevistas de
desligamento e conversas periódicas com os times ajudam a identificar sinais de
alerta antes que eles se agravem, não ignore os pequenos indícios, muitas
vezes, eles apontam padrões de comportamento nocivo que precisam ser
interrompidos imediatamente.
5. Promova uma cultura de respeito e acolhimento
Valorize publicamente comportamentos éticos,
colaborativos e respeitosos, incentive o feedback positivo, o apoio mútuo entre
colegas e o reconhecimento não apenas por metas alcançadas, mas também pela forma
como se trabalha.
Empresas como Magazine Luiza e Natura,
por exemplo, são conhecidas por construir ambientes onde o respeito é um valor
inegociável e isso se reflete nos baixos índices de rotatividade e no alto
engajamento das equipes.
Conclusão
O combate ao assédio moral é uma questão de ética,
responsabilidade e, acima de tudo, humanidade, nenhuma empresa pode se
considerar moderna ou inovadora se permite que práticas abusivas persistam
entre seus muros físicos ou virtuais.
É papel de todos, lideranças, RH e colaboradores construir um ambiente onde o respeito, a dignidade e o bem-estar sejam mais do que palavras no papel: sejam vividos todos os dias.